Blogrão, o blog da pós-colheita de grãos!
O conhecimento potencializa os seus resultados na pós-colheita de grãos
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Aeração automática para melhorar os resultados no armazenamento de grãos
Por Newiton da Silva Timm, Professor e Cofundador da Academia do Grão, Engenheiro Agrícola, Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Doutor em Engenharia Agrícola e Pós-doutor em Pós-colheita, industrialização e qualidade de grãos.IntroduçãoA aeração de grãos tem como objetivo principal reduzir e uniformizar a temperatura da massa de grãos. A aeração auxilia na manutenção das propriedades físico-químicas e tecnológicas dos grãos. Essa operação é fundamental para prevenir problemas comuns no armazenamento de grãos, como a formação de condensação, compactação, fermentação, aquecimento e proliferação de insetos.Na aeração automática de grãos, as regras e programas de aeração possuem três objetivos específicos, podendo ser o de resfriar, conservar ou secar os grãos. Além disso, esses conceitos podem estar juntos, como em uma regra de resfriamento e conservação de grãos. Na programação automática pode-se ainda levar em consideração horários proibidos para o acionamento dos aeradores, como no horário de pico de energia elétrica, conforme a região onde está situada a unidade.ResfriamentoUm programa de aeração automática constituído de regras de resfriamento, levará em consideração a comparação entre a temperatura ambiente e a temperatura da massa de grãos. Nesse caso, deve-se definir uma diferença entre essas temperaturas que seja significativa para justificar o acionamento dos aeradores. Esse valor será diferente conforme as condições climáticas de cada região, mas no geral um bom valor seria de pelo menos 4 ºC, por exemplo.ConservaçãoPor outro lado, quando se diz que um programa de aeração automática de grãos tem como objetivo conservar a massa de grãos, deve-se considerar além da temperatura, a umidade relativa do ar ambiente. Nesse cenário, a conservação refere-se aos atributos de qualidade dos grãos e a conservar o teor de água (umidade) que os grãos foram armazenados. Nesse sentido, entra-se nos conceitos de equilíbrio higroscópico, onde os aeradores serão acionados automaticamente quando as condições do ar ambiente originarem uma umidade de equilíbrio higroscópico maior em relação a umidade do grão armazenado, reduzindo assim a quebra por umidade.Resfriamento e conservaçãoEsses dois cenários de aeração de resfriamento e de conservação, em muitos casos podem ser programados juntos. Nesse sentido, o programa de aeração automática levará em consideração a diferença de temperatura entre a massa de grãos armazenada e a temperatura do ar ambiente e, também, as condições de equilíbrio higroscópico, para evitar uma redução excessiva da umidade dos grãos armazenados.SecagemPor fim, outro programa de aeração automática muito utilizado é o de secagem dos grãos. Antes de entrar especificamente nesse novo cenário, é importante ressaltar que para qualquer dos casos de aeração automática relatados, deve haver um manejo correto no carregamento dos silos e armazéns/graneleiros, um cuidado com o armazenamento de grãos muito úmidos e sujos e os aeradores devem estar corretamente dimensionados para que cumpram com os objetivos da aeração automática.Dito isso, um programa de aeração automática montado com regras de secagem também será baseado nos conceitos da higroscopicidade dos grãos. Entretanto, nesse caso os aeradores serão acionados automaticamente sempre que a temperatura e a umidade relativa do ar ambiente proporcionarem uma umidade de equilíbrio higroscópico menor que a umidade dos grãos que estão armazenados, podendo ser colocada uma margem de umidade, aumentando a diferença entre a umidade de equilíbrio e a umidade do grão armazenado.Aquecimento do ar ao passar pelo aeradorPara todos os cenários, seja de resfriamento, de conservação, de resfriamentos e conservação e de secagem, deve-se considerar o aquecimento que ocorre com o ar ambiente no momento que passa pelas pás dos aeradores. Para isso, pode-se considerar um valor fixo, que em média é 2 ºC, ou então, para uma maior precisão, pode-se utilizar da instalação de sensores de temperatura e umidade relativa do ar situados após a passagem pelo aerador. A instalação desses sensores pode ocorrer do duto do aerador que conduz o ar para os canais de aeração ou no próprio plenum do silo. Considerar esse aquecimento é importante pois quando aumenta a temperatura do ar ocorre uma redução da umidade relativa, o que pode modificar a condição de acionamento dos aeradores de recomendado para não recomentado, ou então, ao contrário.Conclusão Em conclusão, a aeração automática de grãos desempenha um papel fundamental na manutenção da qualidade e na prevenção de problemas durante o armazenamento. Esse processo pode ser programado para resfriar, conservar ou secar os grãos, levando em consideração tanto a diferença de temperatura quanto as condições de equilíbrio higroscópico. É importante ressaltar que o correto manejo do carregamento dos silos e armazéns/graneleiros, o armazenamento adequado dos grãos e o dimensionamento correto dos aeradores são elementos essenciais para o sucesso da aeração automática. Além disso, é necessário considerar o aquecimento gerado pelos aeradores e a influência que isso pode ter na umidade relativa do ar e, consequentemente, nas condições de acionamento dos aeradores. Ao adotar estratégias de aeração automática adequadas, é possível garantir a qualidade e a integridade dos grãos armazenados, evitando perdas e assegurando sua viabilidade para uso posterior.
Mais detalhesPublicado - Ter, 27 Ago 2024
Impactos do controle inadequado da acidez do óleo de soja durante o armazenamento do grão
Por Valmor Ziegler, Dr. em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Pesquisador e Coordenador do itt Nutrifor/Unisinos O óleo é um dos derivados da soja com maior valor agregado e de impacto comercial, sendo obtido de grãos produzidos em todas as regiões do país, o que significa uma exposição desses grãos a temperaturas ambientais com ampla variação, a depender da região e da época do ano. A atividade metabólica dos grãos armazenados é resposta das condições de temperatura, dentre outros fatores, em que estes grãos são expostos, o que pode gerar impactos significativos na qualidade dos produtos derivados, como o óleo. Um estudo realizado no itt Nutrifor da Unisinos em 2023, fez o acompanhamento mensal de amostras de grãos de soja armazenados com umidade inicial de 12,97%, nas temperaturas de 15, 20, 25, 30 e 35°C, durante 6 meses. Observa-se que o aumento no percentual de acidez, quando o grão é armazenado em 15 e 20°C é irrisório, por outro lado, quando o armazenamento do grão é realizado a 30 e 35°C, o percentual de acidez praticamente dobra em seis meses (Tabela 1). Tabela 1. Acidez do óleo (% em base seca) dos grãos de soja armazenados em diferentes temperaturas por 180 dias, com umidade inicial de 12,97%.Fonte: Ziegler e Ferreira (2024) Nos últimos anos, a indústria de óleo de soja está prestando mais a atenção nos valores de acidez do óleo em grãos armazenados, pois quanto maior o percentual de acidez, maior é o teor de ácidos graxos livres presentes neste óleo, que por sua vez precisa ser removido do óleo bruto, na etapa de neutralização, conforme esquema detalhado na Figura 1. Os impactos do maior percentual de acidez, podem ser observados em duas dimensões:1 - Menor rendimento de óleo neutralizado, que segue para as etapas seguintes do refino2 - Maior custo de neutralização, uma vez que é necessário a utilização de agentes alcalinos neste processo, como o Hidróxido de SódioFigura 1. Impactos tecnológicos do maior teor de acidez do óleo em grãos de soja Todos esses fenômenos ocorrem porque as temperaturas mais elevadas aceleram o metabolismo dos grãos e dos microrganismos associados, que por sua vez liberam enzimas, dentre elas, as lipases, que fazem a hidrólise (quebra) da ligação existente entre os ácidos graxos e o glicerol, liberando os ácidos graxos livres. Por outro lado, temperaturas amenas de armazenamento (abaixo de 20°C), inibem a atividade metabólica do grão e dos microrganismos associados. Dessa forma, o controle de acidez do grão de soja durante o armazenamento representa ganhos de rendimento de óleo durante o processo de refino, além de minimizar os custos operacionais de neutralização, etapa essa necessária para atender parâmetros legais de comercialização de óleo de soja para consumo humano. Referência Ziegler, V.; Ferreira, C. D. Qualidade de grãos de soja em função da temperatura de armazenamento. Grãos Brasil. Edição Fevereiro/Março de 2024.
Mais detalhesPublicado - Seg, 03 Jun 2024
Desafios e oportunidades na utilização de inseticidas no milho armazenado
Por Gustavo Lang, Dr. em Pós-colheita e Industrialização de Grãos. O milho, não diferente das demais commodities no Brasil, veem superando recordes de produção e exportação. Os recentes acontecimentos globais, guerra e pandemia, afetaram a produção dos principais players da Europa, o que fez com que países como Espanha e Inglaterra aumentassem a procura pelo milho brasileiro. Em contraste às ótimas notícias, rigorosos requisitos de qualidade são exigidos para que estes negócios aconteçam, e o principal deles são os contaminantes. Contaminantes são tidos como quaisquer substâncias adicionadas voluntariamente ou não aos grãos, e capazes de causar danos à saúde das pessoas ou animais que os consomem, como por exemplo: agroquímicos, micotoxinas, hidrocarbonetos originários da queima de biomassa e derivados de petróleo. Porém, este artigo irá tratar daqueles que atualmente veem causando grandes complicações para a exportação de milho, os inseticidas para o controle de pragas de armazenamento. Uma parcela expressiva da produção brasileira ocorre em biomas de cerrado e amazônico onde as temperaturas e umidades do ar são elevadas. Essas condições trazem inúmeros desafios para o setor de tecnologia que muitas vezes necessita buscar soluções específicas para a realidade de uma agricultura em clima tropical. Para o controle de insetos não é diferente, pois condições estas são favoráveis para o desenvolvimento dessas pragas que causam perdas significativas. Nesse contexto entram os inseticidas. A aplicação de inseticidas líquidos via aspersão na massa de grãos é uma ferramenta importante na diversificação das práticas de controle de pragas. No entanto, é extremamente importante que sejam respeitadas as condições legais para a sua utilização. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em conjunto com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o IBAMA são os responsáveis pela aprovação do uso e para quais grãos cada produto pode ser utilizado. A ANVISA disponibiliza as monografias com todas as informações de cada produto (clique aqui para consultar). É extremamente importante que as doses de aplicação, o volume de calda e o intervalo de segurança, que estão disponíveis na bula, sejam respeitados. Somente assim iremos garantir a sua eficácia, reduzindo os riscos do desenvolvimento de resistência pelos insetos e respeitando os limites máximos de resíduo (LMR) nos grãos. O limite máximo de resíduo (LMR) é o valor máximo do residual de inseticida que pode estar presente nos grãos para sua utilização. Cada país define seus próprios limites para cada princípio ativo. Todo inseticida é composto por um ingrediente ativo (I.A.) responsável por matar os insetos. Cada molécula de I.A. possui um tempo para sua degradação e é expresso na bula como intervalo de segurança, ou seja, é o tempo necessário para que a molécula de I.A. se degrade para limites inferiores ao LMR e os grãos liberados para utilização. Feito o preâmbulo dos conceitos, retornemos ao nosso desafio: exportar milho com níveis de inseticidas inferiores aos exigidos pelos países importadores. O que pode ocorrer, a exemplo da União Europeia, é que o LMR de alguns inseticidas chega a ser 60 vezes inferior quando comparado à legislação brasileira. Dessa forma, mesmo que com dosagem aplicada de forma correta e respeitado o intervalo de segurança da bula, ainda assim estaremos com residual acima do LMR exigido pela União Europeia. Na Tabela abaixo estão demonstrados os intervalos de segurança necessários para enquadramento nos limites do Brasil (conforme bula) e da União Europeia (valores estimados com base em estudos científicos) dos principais ingredientes ativos. Tabela 1. Intervalos de segurança necessários para enquadramento nos limites do Brasil e da União Europeia dos principais ingredientes ativos. Não há como erradicar totalmente as pragas de armazenamento, somente controlá-las por meio das práticas de Manejo Integrado de Pragas (MIPgrãos). A limpeza, remoção de resíduos e profilaxia das estruturas, se adotadas continuamente, reduzem a proliferação de insetos e consequentemente a necessidades de inseticidas. Estar atento às corretas práticas na realização de expurgos, como vedação, dosagem e tempo de exposição, são cruciais para o sucesso da operação. Além disso, a utilização da terra de diatomácea que não possui toxicidade e nenhuma restrição de uso, é uma importante aliada. É fato que os desafios para a pós-colheita são inúmeros e o cumprimento dos requisitos de qualidade e sanidade não é algo simples. Porém, é nosso dever! Adote sempre as boas práticas, procure profissionais capacitados e, quando necessário, certifique-se de que está utilizando inseticidas autorizados para aplicação em grãos de milho e que não irão impactar na sua comercialização.ReferênciasANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasil. MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasil. Djouaka, R.; Soglo, M.F.; Kusimo, M.O.; Adéoti, R.; Talom, A.; Zeukeng, F.; Paraïso, A.; Afari-Sefa, V.; Saethre, M.-G.; Manyong, V.; et al. The Rapid Degradation of Lambda-Cyhalothrin Makes Treated Vegetables Relatively Safe for Consumption. Int. J. Environ. Res. Public Health, 2018, 15, 1536.Papadopoulou-Mourkidou, E. & Tomazou, T. Persistence and activity of permethrin in stored wheat and its residues in wheat milling fractions. Journal of Stored Products Research, Volume 27, Issue 4, 1991, Pages 249-254.Sgarbiero, E., Trevizan, L. R. P., & Baptista, G. C. de. Pirimiphos-methyl residues in corn and popcorn grains and some of their processed products and the insecticide action on the control of Sitophilus zeamais Mots. (Coleoptera: Curculionidae). Neotropical Entomology, 32(4), 2003, 707–711.Arindam Basu Sarkar, Rahul Khupse. Bifenthrin. Editor(s): Philip Wexler, Encyclopedia of Toxicology (Fourth Edition), Academic Press, 2024, Pages 47-52.FAO & WHO. Report 2023: Pesticide residues in food – Joint FAO/WHO Meeting on Pesticide Residues. Rome, 2024.
Mais detalhesPublicado - Ter, 23 Abr 2024
Trigo no cerrado brasileiro: conheça os parâmetros de pós-colheita de diferentes genótipos
Por Larissa Alves Rodrigues e Maurício de Oliveira, Engenheiros Agrônomos e pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas.Durante muitos anos, o cultivo do trigo foi restrito a região Sul do país. Porém, nos últimos anos, os pesquisadores e a indústria têm visto a região do Cerrado brasileiro com potencial para a produção deste grão.Os parâmetros de qualidade tecnológica, panificação e dos metabólitos do trigo são influenciados pelo genótipo e, principalmente, pelo ambiente de cultivo. Nesse sentido, considerando que um ambiente expõe a cultura a condições climáticas adversas, como estresse térmico ou hídrico, alguns atributos da qualidade do trigo, que são importantes para a indústria, são afetados por essas variações.Na Tabela 1, observa-se os valores de teor de proteína, peso hectolitro e número de queda (Falling Number) de seis genótipos de trigo, sendo eles o Destak, o 1403, o Madrepérola, o Senna, o Feroz e o Guardião, cultivados em cinco cidades diferentes, sendo elas em Arapoti/PR, em Arapongas/PR, em Passo Fundo/RS, em Uberaba/MG e em São Gotardo/MG.Tabela 1. Teor de proteína, peso hectolitro e número de queda (Falling Number) de seis genótipos de trigo cultivados em diferentes municípios do cerrado brasileiro.*As letras maiúsculas comparam entre as linhas, os diferentes locais de cultivo pelo teste de comparação de médias de Tukey, com 95% de confiabilidade. FONTE: RODRIGUES, LARISSA ALVES, 2023. Os genótipos que foram cultivados em Arapoti/PR e Uberaba/MG apresentaram maiores valores proteicos. A alta concentração de proteína pode ser influenciada tanto por fatores abióticos quanto por fatores genéticos, influenciando os parâmetros reológicos e de qualidade da farinha, sendo ele, o principal componente que determina a qualidade da farinha de trigo. Outros fatores ambientais que também influenciam no aumento do teor de proteína dos grãos são a temperatura e a disponibilidade de água, visto que exercem grande influência sobre a taxa e a duração do período de enchimento dos grãos, afetando a sintetização de proteína nos grãos. Os genótipos cultivados em São Gotardo/MG apresentaram maior valor de peso hectolitro, que indica a massa específico do grão e é utilizado como parâmetro de comercialização, estando relacionado ao rendimento da farinha. Além disso, os genótipos cultivados em São Gotardo/MG apresentaram maior número de queda (Falling Number). Altos valores de número de queda (Falling Number) indicam que há menor atividade de enzimas amilolíticas nas farinhas de trigo. Tanto o excesso quanto a escassez da enzima α-amilase podem influenciar no processo de panificação, alterando as propriedades tecnológicas desses produtos. O bioma do cerrado é caracterizado por possuir temperaturas elevadas e estação de chuvas bem definidas. Essas condições acarretam em uma menor possibilidade de estresse hídrico. Nesse sentido, compreende-se que o cultivo do trigo no Cerrado veio como uma solução para a alta demanda que o Brasil possui, capaz de potencializar a produção nacional. Os resultados obtidos evidenciaram que, além de ser possível a produção de trigo no cerrado brasileiro, originam-se grãos de excelente qualidade, o que potencializa a exploração desse bioma para tal atividade.ReferênciasRodrigues, Larissa Alves. Efeitos da interação entre genótipos e ambientes dos biomas do Cerrado e da Mata Atlântica sobre as propriedades tecnológicas e de panificação de grãos de trigo. Larissa Alves Rodrigues; Maurício de Oliveira (Orientador); Moacir Cardoso Elias (Coorientador). Dissertação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, 2023.
Mais detalhesPublicado - Dom, 14 Abr 2024
Qualidade da proteína de soja: precisamos pensar e planejar nossas unidades armazenadores
Por Andressa Tolfo Bandeira, Alessandra Stroher e Ricardo Tadeu Paraginski, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha - Campus Santo Augusto A soja é uma das culturas agrícolas de maior importância no Brasil e no mundo, e ao longo dos anos vem se buscando incrementar a produção de soja no país por meio do aumento na área plantada e/ou rendimento por área, e inicia-se um olhar diferenciado para a questão da qualidade do grão, não somente em termos de classificação, como ardidos, avariados, dentre outros, mas relacionado a qualidade de proteína. O grande interesse no cultivo da soja deve-se à composição típica do grão, que apresenta em torno de 40% de teor proteico e 20% de teor de óleo, além da alta produtividade de seus cultivares. Esta cultura também é atribuída à presença de diversos constituintes funcionais que conferem benefícios à saúde e associados à prevenção de algumas doenças. Culminado com a necessidade de maiores produções e resistência a diferentes pragas, a soja e seus derivados constituem matérias-primas altamente promissoras para uso na indústria de alimentos, sobretudo em produtos à base de cereais e de carnes. Conforme Silva (2006), a adição apropriada de derivados de soja resulta em produtos alimentícios menos calóricos, com teor de lipídios reduzido e com elevado conteúdo de proteína adequada às necessidades nutricionais de indivíduos adultos, onde além de serem mais baratos e preservar as características físicas e sensoriais do produto tradicional. Destaca-se que na safra 2014/2015, a Embrapa Soja coletou 867 amostras de soja em diferentes municípios de nove estados brasileiros (RS, SC, PR, MS, MT, MG, GO, SP, BA). O levantamento revelou que a média de proteína (em base seca) é de 36,22% no Rio Grande do Sul. Conforme a Embrapa (2015), um dos fatores mais importantes para essa queda nos teores de proteína seria o fato de as empresas de melhoramento genético, nos últimos 40 anos, terem priorizado a produtividade, característica que tem uma relação inversa com o teor de proteínas. Neste contexto, os programas de melhoramento da soja têm buscado o desenvolvimento de cultivares mais produtivas e estáveis em ambientes variados e, outro fator de interesse desses programas é o melhoramento das características de qualidade do grão, como aumentos nos teores de proteína e óleo, e mais recentemente a indústria iniciou a comercialização e remuneração dos grãos pelo percentual de proteína, podendo chegar a mais de R$ 10,00 o valor. Assim, da mesma forma como ocorrem nas cadeias de grãos de arroz e trigo, principalmente, onde já ocorre segregação e separação por qualidade, onde grãos de trigo são separados por peso hectolitro (PH), classe (pão, brando, melhorador e branqueado), além de outras características como Falling Number e Alveografia (Qualidade do Glúten), e do arroz, onde os grãos são separados por cultivares ou pelo rendimento de engenho, precisa-se no caso da soja começar a se pensar como isso poderia ser realizado. Destaca-se que existem algumas linhas a serem seguidas, pois dentro da cadeia existe uma grande variabilidade na qualidade, principalmente no que se refere a grãos avariados, e também ainda existem nichos de mercados para a utilização de grãos não transgênicos, destinados para mercados específicos e até mesmo para a exportação. Cabe destacar, que alguns mercados compradores já sinalizaram mudanças na legislação comercial, buscando essa separação, e cabe as unidades armazenadoras estarem preparadas, pois nessa linha, Startups e Empresas já oferecem planos de adesão para avaliação da qualidade dos grãos ao longo do processo. Um dos grandes desafios da separação é a avaliação do percentual de proteína, pois hoje a mesma pode ser realizada pelo método de Kjeldahl ou por espectroscopia no infravermelho próximo (NIR), sendo que ambos fogem das realizadas em salas de classificação de grãos das unidades armazenadoras. O método Kjeldahl é referência ou padrão para quantificar o teor de proteína em alimentos, sendo recomendado por órgãos normalizadores como AOAC e ISO. Esse método quantifica o teor de nitrogênio total e estima indiretamente o teor de proteína dos alimentos. Já o NIR, é uma técnica que permite analisar principalmente amostras orgânicas (e algumas inorgânicas) através da emissão de radiação eletromagnética no infravermelho próximo de 780nm a 2500nm. Ambos os testes apresentam custos elevados, são de lenta realização quando comparado a uma determinação de umidade, por exemplo, e necessitam de profissionais capacitados para a execução. Trabalho recente realizado no IFFar – Campus Santo Augusto no Grupo Pós-Col: Ensino, Pesquisa e Extensão em Pós-Colheita e Qualidade de Grãos e Sementes, avaliou o teor de proteína de quatro cultivares de soja recentemente lançadas no mercado, e encontrou uma variação de até 5% na safra 2022/2023 ao comparar algumas cultivares resistente a produtos hormonais, recentemente lançadas no mercado. Assim, nossas unidades de recebimento precisam estar atentas e preparadas a essa demanda, e como vamos ajustar isso? Destacamos abaixo duas possibilidades:A) A unidade armazenadora possuir uma equipe multidisciplinar que avalie a qualidade do sistema produtivo desde o pré-plantio até a colheita, e realize determinações do estado fisiológico da planta, e associe está a qualidade de proteína, através de indicadores prévios, como por exemplo associar teor de clorofila a percentual de proteína.B) A unidade possuir sistema de recebimento individualizado de cada produtor, de cada carga e lote de grãos, e consiga manter estes isolados até a determinação do percentual de proteína, para após dar o destino correto destes no interior da carga. Assim, precisamos começar a organização para esta demanda que em breve chegará as UA de nosso país, onde até o momento estamos preocupados com o déficit de armazenagem e a logística, bem como a classificação dos grãos, mas logo teremos mais um parâmetro a ser considerado nas unidades, muito mais delicado, e principalmente, complexo.ReferênciasEmbrapa Soja. Portfólio de cultivares de soja. Disponível em: Acesso em: 09 mai 2023.Silva, M. S., Naves, M. M. V., Oliveira, R. B. de., & Leite, O. de S. M. (2006). Composição química e valor protéico do resíduo de soja em relação ao grão de soja. Food Science and Technology, 26(3), 571–576. https://doi.org/10.1590/S0101-20612006000300014
Mais detalhesPublicado - Ter, 02 Abr 2024
A importância de um sistema de exaustão para reduzir perdas no armazenamento de soja
Por Lázaro da Costa Corrêa Cañizares e Maurício de Oliveira, Engenheiros Agrônomos e pesquisadores do LABGRÃOS/EMBRAPII. Durante a etapa de armazenamento, os grãos de soja tornam-se susceptíveis a fatores biotipos e a abióticos, podendo ocasionar a degradação de seus constituintes, reduzindo a qualidade dos grãos e, por consequência, dos produtos derivados. Além disso, a etapa de armazenamento representa um custo elevado para as indústrias, principalmente em relação ao consumo energético proveniente do sistema de aeração. Com isso, torna-se necessário a utilização de tecnologias que auxiliam na manutenção da qualidade e na redução de custos durante o armazenamento da soja. Dentre as tecnologias utilizadas durante o armazenamento de grãos, o sistema de aeração é a mais utilizada para manter, uniformizar e/ou reduzir a temperatura da massa de grãos, diminuindo o metabolismo dos grãos e reduzindo a proliferação de micro-organismos associados. Em regiões do Brasil onde a colheita dos grãos coincide com épocas de altas temperaturas ambientes, o sistema de aeração não é suficiente para realizar a manutenção da temperatura da massa de grãos, sendo necessário a utilização de exaustores na superfície dos armazéns. A exaustão eólica reduz a pressão estática para aeração dos grãos, aumentando a eficiência na operação, reduzindo a temperatura dos grãos rapidamente, sem aumentar o custo energético da operação. Na Tabela 1 observa-se os valores de umidade dos grãos, perda de massa, tempo de aeração e consumo de energia, comparando um silo com um sistema de exaustão adequado e outro silo com um sistema de exaustão insuficiente. No silo com um sistema de exaustão insuficiente foi observado uma maior redução da umidade do grão (2,07%) e maior perda de massa (105 t), tempo de aeração (191 h) e consumo energético (9550 kW), em comparação ao silo com um sistema de exaustão suficiente, com suspiros e exaustores eólicos projetados adequadamente.Tabela 1. Umidade do grão, tempo de aeração, perda de massa e consumo de energia de grãos de soja armazenados por 0, 3 e 6 meses em diferentes silos.Fonte: CAÑIZARES, TIMM, LANG, GAIOSO, FERREIRA e OLIVEIRA, 2021. Quando ocorre o aquecimento da massa de grãos, ter um sistema de aeração e exaustão projetados corretamente é importante para o sucesso no armazenamento. Pelas informações de termometria apresentados na Figura 1, ficou claro que o aumento da temperatura foi corrigido rapidamente nos silos com exaustão adequada (Situação B), em comparação ao silo sem exaustão suficiente (Situação A). Nesse caso, é importante lembrar que o objetivo do estudo foi mostrar a importância do sistema de exaustão, sendo que a capacidade de aeração dos dois silos avaliados era a mesma.Figura 1. Imagens do sistema de termometria dos silos sem exaustão suficiente (A) e com exaustão suficiente e adequada (B). Fonte: CAÑIZARES, TIMM, LANG, GAIOSO, FERREIRA e OLIVEIRA, 2021. Possivelmente a remoção de calor ocorreu devido à diferença na pressão gerada do interior e exterior do silo, onde a exaustão reduziu a energia necessária para remover o calor do interior da massa de soja. Os resultados apresentados na Figura 1 estão de acordo com o tempo de aeração e o consumo de energia apresentados na tabela e, juntos, mostram a relevância de um sistema de exaustão funcionando corretamente. Durante os três primeiros meses de armazenamento, foram observados maiores tempos de aeração e consumo de energia, sendo esses valores maiores no silo com exaustão insuficiente (Tabela 1). Neste silo, a temperatura da soja foi padronizada e reduzida com 191 horas de aeração e não foi necessário ligar os ventiladores nos últimos 3 meses de armazenamento. O maior tempo de aeração no silo com exaustão insuficiente promoveu redução da umidade do grão para níveis mais baixos (11,29%), quando comparado aos silos com exaustão adequada (12,17%). A redução da umidade da soja foi o principal fator que influenciou na perda de massa observada (Tabela 1). O silo com exaustão insuficiente necessitou de 191 horas de aeração, o que resultou em redução de 105,00 t de massa, pois o metabolismo da soja permaneceu acelerado por mais tempo, consumindo a matéria seca dos grãos. Em conclusão, a implementação de exaustores adequados no armazenamento de soja emerge como uma estratégia indispensável para reduzir perdas de massa e custos operacionais. Os resultados obtidos evidenciam que a adequada remoção de calor proporcionada pelos exaustores contribui significativamente para a preservação da qualidade dos grãos, além de otimizar o consumo energético durante o processo de aeração. A comparação entre silos com sistemas de exaustão insuficiente e adequada destaca a eficácia deste último na estabilização da temperatura e umidade, refletindo diretamente na redução das perdas de massa ao longo do período de armazenamento. Portanto, a adoção de tecnologias como exaustores eólicos se revela como um investimento fundamental para garantir a competitividade e sustentabilidade da cadeia produtiva de soja, assegurando a preservação da qualidade dos grãos e a maximização dos recursos empregados no processo de armazenamento.
Mais detalhesPublicado - Qui, 07 Mar 2024
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Aeração automática para melhorar os resultados no armazenamento de grãos
Ter, 27 Ago 2024
Impactos do controle inadequado da acidez do óleo de soja durante o armazenamento do grão
Seg, 03 Jun 2024
Desafios e oportunidades na utilização de inseticidas no milho armazenado
Ter, 23 Abr 2024