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Impactos do controle inadequado da acidez do óleo de soja durante o armazenamento do grão
Impactos do controle inadequado da acidez do óleo de soja durante o armazenamento do grão

Por Valmor Ziegler, Dr. em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Pesquisador e Coordenador do itt Nutrifor/Unisinos     O óleo é um dos derivados da soja com maior valor agregado e de impacto comercial, sendo obtido de grãos produzidos em todas as regiões do país, o que significa uma exposição desses grãos a temperaturas ambientais com ampla variação, a depender da região e da época do ano. A atividade metabólica dos grãos armazenados é resposta das condições de temperatura, dentre outros fatores, em que estes grãos são expostos, o que pode gerar impactos significativos na qualidade dos produtos derivados, como o óleo.    Um estudo realizado no itt Nutrifor da Unisinos em 2023, fez o acompanhamento mensal de amostras de grãos de soja armazenados com umidade inicial de 12,97%, nas temperaturas de 15, 20, 25, 30 e 35°C, durante 6 meses. Observa-se que o aumento no percentual de acidez, quando o grão é armazenado em 15 e 20°C é irrisório, por outro lado, quando o armazenamento do grão é realizado a 30 e 35°C, o percentual de acidez praticamente dobra em seis meses (Tabela 1).   Tabela 1. Acidez do óleo (% em base seca) dos grãos de soja armazenados em diferentes temperaturas por 180 dias, com umidade inicial de 12,97%.Fonte: Ziegler e Ferreira (2024)        Nos últimos anos, a indústria de óleo de soja está prestando mais a atenção nos valores de acidez do óleo em grãos armazenados, pois quanto maior o percentual de acidez, maior é o teor de ácidos graxos livres presentes neste óleo, que por sua vez precisa ser removido do óleo bruto, na etapa de neutralização, conforme esquema detalhado na Figura 1. Os impactos do maior percentual de acidez, podem ser observados em duas dimensões:1 - Menor rendimento de óleo neutralizado, que segue para as etapas seguintes do refino2 - Maior custo de neutralização, uma vez que é necessário a utilização de agentes alcalinos neste processo, como o Hidróxido de SódioFigura 1. Impactos tecnológicos do maior teor de acidez do óleo em grãos de soja Todos esses fenômenos ocorrem porque as temperaturas mais elevadas aceleram o metabolismo dos grãos e dos microrganismos associados, que por sua vez liberam enzimas, dentre elas, as lipases, que fazem a hidrólise (quebra) da ligação existente entre os ácidos graxos e o glicerol, liberando os ácidos graxos livres. Por outro lado, temperaturas amenas de armazenamento (abaixo de 20°C), inibem a atividade metabólica do grão e dos microrganismos associados. Dessa forma, o controle de acidez do grão de soja durante o armazenamento representa ganhos de rendimento de óleo durante o processo de refino, além de minimizar os custos operacionais de neutralização, etapa essa necessária para atender parâmetros legais de comercialização de óleo de soja para consumo humano.   Referência Ziegler, V.; Ferreira, C. D. Qualidade de grãos de soja em função da temperatura de armazenamento. Grãos Brasil. Edição Fevereiro/Março de 2024.

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Publicado - Seg, 03 Jun 2024

Desafios e oportunidades na utilização de inseticidas no milho armazenado
Desafios e oportunidades na utilização de inseticidas no milho armazenado

Por Gustavo Lang, Dr. em Pós-colheita e Industrialização de Grãos.    O milho, não diferente das demais commodities no Brasil, veem superando recordes de produção e exportação. Os recentes acontecimentos globais, guerra e pandemia, afetaram a produção dos principais players da Europa, o que fez com que países como Espanha e Inglaterra aumentassem a procura pelo milho brasileiro. Em contraste às ótimas notícias, rigorosos requisitos de qualidade são exigidos para que estes negócios aconteçam, e o principal deles são os contaminantes.    Contaminantes são tidos como quaisquer substâncias adicionadas voluntariamente ou não aos grãos, e capazes de causar danos à saúde das pessoas ou animais que os consomem, como por exemplo: agroquímicos, micotoxinas, hidrocarbonetos originários da queima de biomassa e derivados de petróleo. Porém, este artigo irá tratar daqueles que atualmente veem causando grandes complicações para a exportação de milho, os inseticidas para o controle de pragas de armazenamento.     Uma parcela expressiva da produção brasileira ocorre em biomas de cerrado e amazônico onde as temperaturas e umidades do ar são elevadas. Essas condições trazem inúmeros desafios para o setor de tecnologia que muitas vezes necessita buscar soluções específicas para a realidade de uma agricultura em clima tropical. Para o controle de insetos não é diferente, pois condições estas são favoráveis para o desenvolvimento dessas pragas que causam perdas significativas.     Nesse contexto entram os inseticidas. A aplicação de inseticidas líquidos via aspersão na massa de grãos é uma ferramenta importante na diversificação das práticas de controle de pragas. No entanto, é extremamente importante que sejam respeitadas as condições legais para a sua utilização. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em conjunto com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o IBAMA são os responsáveis pela aprovação do uso e para quais grãos cada produto pode ser utilizado. A ANVISA disponibiliza as monografias com todas as informações de cada produto (clique aqui para consultar). É extremamente importante que as doses de aplicação, o volume de calda e o intervalo de segurança, que estão disponíveis na bula, sejam respeitados. Somente assim iremos garantir a sua eficácia, reduzindo os riscos do desenvolvimento de resistência pelos insetos e respeitando os limites máximos de resíduo (LMR) nos grãos.     O limite máximo de resíduo (LMR) é o valor máximo do residual de inseticida que pode estar presente nos grãos para sua utilização. Cada país define seus próprios limites para cada princípio ativo. Todo inseticida é composto por um ingrediente ativo (I.A.) responsável por matar os insetos. Cada molécula de I.A. possui um tempo para sua degradação e é expresso na bula como intervalo de segurança, ou seja, é o tempo necessário para que a molécula de I.A. se degrade para limites inferiores ao LMR e os grãos liberados para utilização.     Feito o preâmbulo dos conceitos, retornemos ao nosso desafio: exportar milho com níveis de inseticidas inferiores aos exigidos pelos países importadores. O que pode ocorrer, a exemplo da União Europeia, é que o LMR de alguns inseticidas chega a ser 60 vezes inferior quando comparado à legislação brasileira. Dessa forma, mesmo que com dosagem aplicada de forma correta e respeitado o intervalo de segurança da bula, ainda assim estaremos com residual acima do LMR exigido pela União Europeia. Na Tabela abaixo estão demonstrados os intervalos de segurança necessários para enquadramento nos limites do Brasil (conforme bula) e da União Europeia (valores estimados com base em estudos científicos) dos principais ingredientes ativos. Tabela 1. Intervalos de segurança necessários para enquadramento nos limites do Brasil e da União Europeia dos principais ingredientes ativos.    Não há como erradicar totalmente as pragas de armazenamento, somente controlá-las por meio das práticas de Manejo Integrado de Pragas (MIPgrãos). A limpeza, remoção de resíduos e profilaxia das estruturas, se adotadas continuamente, reduzem a proliferação de insetos e consequentemente a necessidades de inseticidas. Estar atento às corretas práticas na realização de expurgos, como vedação, dosagem e tempo de exposição, são cruciais para o sucesso da operação. Além disso, a utilização da terra de diatomácea que não possui toxicidade e nenhuma restrição de uso, é uma importante aliada.    É fato que os desafios para a pós-colheita são inúmeros e o cumprimento dos requisitos de qualidade e sanidade não é algo simples. Porém, é nosso dever! Adote sempre as boas práticas, procure profissionais capacitados e, quando necessário, certifique-se de que está utilizando inseticidas autorizados para aplicação em grãos de milho e que não irão impactar na sua comercialização.ReferênciasANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasil. MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasil. Djouaka, R.; Soglo, M.F.; Kusimo, M.O.; Adéoti, R.; Talom, A.; Zeukeng, F.; Paraïso, A.; Afari-Sefa, V.; Saethre, M.-G.; Manyong, V.; et al. The Rapid Degradation of Lambda-Cyhalothrin Makes Treated Vegetables Relatively Safe for Consumption. Int. J. Environ. Res. Public Health, 2018, 15, 1536.Papadopoulou-Mourkidou, E. & Tomazou, T. Persistence and activity of permethrin in stored wheat and its residues in wheat milling fractions. Journal of Stored Products Research, Volume 27, Issue 4, 1991, Pages 249-254.Sgarbiero, E., Trevizan, L. R. P., & Baptista, G. C. de. Pirimiphos-methyl residues in corn and popcorn grains and some of their processed products and the insecticide action on the control of Sitophilus zeamais Mots. (Coleoptera: Curculionidae). Neotropical Entomology, 32(4), 2003, 707–711.Arindam Basu Sarkar, Rahul Khupse. Bifenthrin. Editor(s): Philip Wexler, Encyclopedia of Toxicology (Fourth Edition), Academic Press, 2024, Pages 47-52.FAO & WHO. Report 2023: Pesticide residues in food – Joint FAO/WHO Meeting on Pesticide Residues. Rome, 2024.

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Publicado - Ter, 23 Abr 2024

Trigo no cerrado brasileiro: conheça os parâmetros de pós-colheita de diferentes genótipos
Trigo no cerrado brasileiro: conheça os parâmetros de pós-colheita de diferentes genótipos

Por Larissa Alves Rodrigues e Maurício de Oliveira, Engenheiros Agrônomos e pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas.Durante muitos anos, o cultivo do trigo foi restrito a região Sul do país. Porém, nos últimos anos, os pesquisadores e a indústria têm visto a região do Cerrado brasileiro com potencial para a produção deste grão.Os parâmetros de qualidade tecnológica, panificação e dos metabólitos do trigo são influenciados pelo genótipo e, principalmente, pelo ambiente de cultivo. Nesse sentido, considerando que um ambiente expõe a cultura a condições climáticas adversas, como estresse térmico ou hídrico, alguns atributos da qualidade do trigo, que são importantes para a indústria, são afetados por essas variações.Na Tabela 1, observa-se os valores de teor de proteína, peso hectolitro e número de queda (Falling Number) de seis genótipos de trigo, sendo eles o Destak, o 1403, o Madrepérola, o Senna, o Feroz e o Guardião, cultivados em cinco cidades diferentes, sendo elas em Arapoti/PR, em Arapongas/PR, em Passo Fundo/RS, em Uberaba/MG e em São Gotardo/MG.Tabela 1. Teor de proteína, peso hectolitro e número de queda (Falling Number) de seis genótipos de trigo cultivados em diferentes municípios do cerrado brasileiro.*As letras maiúsculas comparam entre as linhas, os diferentes locais de cultivo pelo teste de comparação de médias de Tukey, com 95% de confiabilidade. FONTE: RODRIGUES, LARISSA ALVES, 2023.        Os genótipos que foram cultivados em Arapoti/PR e Uberaba/MG apresentaram maiores valores proteicos. A alta concentração de proteína pode ser influenciada tanto por fatores abióticos quanto por fatores genéticos, influenciando os parâmetros reológicos e de qualidade da farinha, sendo ele, o principal componente que determina a qualidade da farinha de trigo. Outros fatores ambientais que também influenciam no aumento do teor de proteína dos grãos são a temperatura e a disponibilidade de água, visto que exercem grande influência sobre a taxa e a duração do período de enchimento dos grãos, afetando a sintetização de proteína nos grãos.        Os genótipos cultivados em São Gotardo/MG apresentaram maior valor de peso hectolitro, que indica a massa específico do grão e é utilizado como parâmetro de comercialização, estando relacionado ao rendimento da farinha. Além disso, os genótipos cultivados em São Gotardo/MG apresentaram maior número de queda (Falling Number). Altos valores de número de queda (Falling Number) indicam que há menor atividade de enzimas amilolíticas nas farinhas de trigo. Tanto o excesso quanto a escassez da enzima α-amilase podem influenciar no processo de panificação, alterando as propriedades tecnológicas desses produtos.        O bioma do cerrado é caracterizado por possuir temperaturas elevadas e estação de chuvas bem definidas. Essas condições acarretam em uma menor possibilidade de estresse hídrico. Nesse sentido, compreende-se que o cultivo do trigo no Cerrado veio como uma solução para a alta demanda que o Brasil possui, capaz de potencializar a produção nacional. Os resultados obtidos evidenciaram que, além de ser possível a produção de trigo no cerrado brasileiro, originam-se grãos de excelente qualidade, o que potencializa a exploração desse bioma para tal atividade.ReferênciasRodrigues, Larissa Alves. Efeitos da interação entre genótipos e ambientes dos biomas do Cerrado e da Mata Atlântica sobre as propriedades tecnológicas e de panificação de grãos de trigo. Larissa Alves Rodrigues; Maurício de Oliveira (Orientador); Moacir Cardoso Elias (Coorientador). Dissertação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, 2023.

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Publicado - Dom, 14 Abr 2024

Qualidade da proteína de soja: precisamos pensar e planejar nossas unidades armazenadores
Qualidade da proteína de soja: precisamos pensar e planejar nossas unidades armazenadores

Por Andressa Tolfo Bandeira, Alessandra Stroher e Ricardo Tadeu Paraginski, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Farroupilha - Campus Santo Augusto    A soja é uma das culturas agrícolas de maior importância no Brasil e no mundo, e ao longo dos anos vem se buscando incrementar a produção de soja no país por meio do aumento na área plantada e/ou rendimento por área, e inicia-se um olhar diferenciado para a questão da qualidade do grão, não somente em termos de classificação, como ardidos, avariados, dentre outros, mas relacionado a qualidade de proteína. O grande interesse no cultivo da soja deve-se à composição típica do grão, que apresenta em torno de 40% de teor proteico e 20% de teor de óleo, além da alta produtividade de seus cultivares. Esta cultura também é atribuída à presença de diversos constituintes funcionais que conferem benefícios à saúde e associados à prevenção de algumas doenças.    Culminado com a necessidade de maiores produções e resistência a diferentes pragas, a soja e seus derivados constituem matérias-primas altamente promissoras para uso na indústria de alimentos, sobretudo em produtos à base de cereais e de carnes. Conforme Silva (2006), a adição apropriada de derivados de soja resulta em produtos alimentícios menos calóricos, com teor de lipídios reduzido e com elevado conteúdo de proteína adequada às necessidades nutricionais de indivíduos adultos, onde além de serem mais baratos e preservar as características físicas e sensoriais do produto tradicional.    Destaca-se que na safra 2014/2015, a Embrapa Soja coletou 867 amostras de soja em diferentes municípios de nove estados brasileiros (RS, SC, PR, MS, MT, MG, GO, SP, BA). O levantamento revelou que a média de proteína (em base seca) é de 36,22% no Rio Grande do Sul. Conforme a Embrapa (2015), um dos fatores mais importantes para essa queda nos teores de proteína seria o fato de as empresas de melhoramento genético, nos últimos 40 anos, terem priorizado a produtividade, característica que tem uma relação inversa com o teor de proteínas.    Neste contexto, os programas de melhoramento da soja têm buscado o desenvolvimento de cultivares mais produtivas e estáveis em ambientes variados e, outro fator de interesse desses programas é o melhoramento das características de qualidade do grão, como aumentos nos teores de proteína e óleo, e mais recentemente a indústria iniciou a comercialização e remuneração dos grãos pelo percentual de proteína, podendo chegar a mais de R$ 10,00 o valor.    Assim, da mesma forma como ocorrem nas cadeias de grãos de arroz e trigo, principalmente, onde já ocorre segregação e separação por qualidade, onde grãos de trigo são separados por peso hectolitro (PH), classe (pão, brando, melhorador e branqueado), além de outras características como Falling Number e Alveografia (Qualidade do Glúten), e do arroz, onde os grãos são separados por cultivares ou pelo rendimento de engenho, precisa-se no caso da soja começar a se pensar como isso poderia ser realizado.    Destaca-se que existem algumas linhas a serem seguidas, pois dentro da cadeia existe uma grande variabilidade na qualidade, principalmente no que se refere a grãos avariados, e também ainda existem nichos de mercados para a utilização de grãos não transgênicos, destinados para mercados específicos e até mesmo para a exportação. Cabe destacar, que alguns mercados compradores já sinalizaram mudanças na legislação comercial, buscando essa separação, e cabe as unidades armazenadoras estarem preparadas, pois nessa linha, Startups e Empresas já oferecem planos de adesão para avaliação da qualidade dos grãos ao longo do processo. Um dos grandes desafios da separação é a avaliação do percentual de proteína, pois hoje a mesma pode ser realizada pelo método de Kjeldahl ou por espectroscopia no infravermelho próximo (NIR), sendo que ambos fogem das realizadas em salas de classificação de grãos das unidades armazenadoras.    O método Kjeldahl é referência ou padrão para quantificar o teor de proteína em alimentos, sendo recomendado por órgãos normalizadores como AOAC e ISO. Esse método quantifica o teor de nitrogênio total e estima indiretamente o teor de proteína dos alimentos. Já o NIR, é uma técnica que permite analisar principalmente amostras orgânicas (e algumas inorgânicas) através da emissão de radiação eletromagnética no infravermelho próximo de 780nm a 2500nm. Ambos os testes apresentam custos elevados, são de lenta realização quando comparado a uma determinação de umidade, por exemplo, e necessitam de profissionais capacitados para a execução.    Trabalho recente realizado no IFFar – Campus Santo Augusto no Grupo Pós-Col: Ensino, Pesquisa e Extensão em Pós-Colheita e Qualidade de Grãos e Sementes, avaliou o teor de proteína de quatro cultivares de soja recentemente lançadas no mercado, e encontrou uma variação de até 5% na safra 2022/2023 ao comparar algumas cultivares resistente a produtos hormonais, recentemente lançadas no mercado. Assim, nossas unidades de recebimento precisam estar atentas e preparadas a essa demanda, e como vamos ajustar isso? Destacamos abaixo duas possibilidades:A)   A unidade armazenadora possuir uma equipe multidisciplinar que avalie a qualidade do sistema produtivo desde o pré-plantio até a colheita, e realize determinações do estado fisiológico da planta, e associe está a qualidade de proteína, através de indicadores prévios, como por exemplo associar teor de clorofila a percentual de proteína.B)   A unidade possuir sistema de recebimento individualizado de cada produtor, de cada carga e lote de grãos, e consiga manter estes isolados até a determinação do percentual de proteína, para após dar o destino correto destes no interior da carga.    Assim, precisamos começar a organização para esta demanda que em breve chegará as UA de nosso país, onde até o momento estamos preocupados com o déficit de armazenagem e a logística, bem como a classificação dos grãos, mas logo teremos mais um parâmetro a ser considerado nas unidades, muito mais delicado, e principalmente, complexo.ReferênciasEmbrapa Soja. Portfólio de cultivares de soja. Disponível em: Acesso em: 09 mai 2023.Silva, M. S., Naves, M. M. V., Oliveira, R. B. de., & Leite, O. de S. M. (2006). Composição química e valor protéico do resíduo de soja em relação ao grão de soja. Food Science and Technology, 26(3), 571–576. https://doi.org/10.1590/S0101-20612006000300014

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Publicado - Ter, 02 Abr 2024

A importância de um sistema de exaustão para reduzir perdas no armazenamento de soja
A importância de um sistema de exaustão para reduzir perdas no armazenamento de soja

Por Lázaro da Costa Corrêa Cañizares e Maurício de Oliveira, Engenheiros Agrônomos e pesquisadores do LABGRÃOS/EMBRAPII.    Durante a etapa de armazenamento, os grãos de soja tornam-se susceptíveis a fatores biotipos e a abióticos, podendo ocasionar a degradação de seus constituintes, reduzindo a qualidade dos grãos e, por consequência, dos produtos derivados. Além disso, a etapa de armazenamento representa um custo elevado para as indústrias, principalmente em relação ao consumo energético proveniente do sistema de aeração. Com isso, torna-se necessário a utilização de tecnologias que auxiliam na manutenção da qualidade e na redução de custos durante o armazenamento da soja.    Dentre as tecnologias utilizadas durante o armazenamento de grãos, o sistema de aeração é a mais utilizada para manter, uniformizar e/ou reduzir a temperatura da massa de grãos, diminuindo o metabolismo dos grãos e reduzindo a proliferação de micro-organismos associados. Em regiões do Brasil onde a colheita dos grãos coincide com épocas de altas temperaturas ambientes, o sistema de aeração não é suficiente para realizar a manutenção da temperatura da massa de grãos, sendo necessário a utilização de exaustores na superfície dos armazéns.  A exaustão eólica reduz a pressão estática para aeração dos grãos, aumentando a eficiência na operação, reduzindo a temperatura dos grãos rapidamente, sem aumentar o custo energético da operação.    Na Tabela 1 observa-se os valores de umidade dos grãos, perda de massa, tempo de aeração e consumo de energia, comparando um silo com um sistema de exaustão adequado e outro silo com um sistema de exaustão insuficiente. No silo com um sistema de exaustão insuficiente foi observado uma maior redução da umidade do grão (2,07%) e maior perda de massa (105 t), tempo de aeração (191 h) e consumo energético (9550 kW), em comparação ao silo com um sistema de exaustão suficiente, com suspiros e exaustores eólicos projetados adequadamente.Tabela 1. Umidade do grão, tempo de aeração, perda de massa e consumo de energia de grãos de soja armazenados por 0, 3 e 6 meses em diferentes silos.Fonte: CAÑIZARES, TIMM, LANG, GAIOSO, FERREIRA e OLIVEIRA, 2021.    Quando ocorre o aquecimento da massa de grãos, ter um sistema de aeração e exaustão projetados corretamente é importante para o sucesso no armazenamento. Pelas informações de termometria apresentados na Figura 1, ficou claro que o aumento da temperatura foi corrigido rapidamente nos silos com exaustão adequada (Situação B), em comparação ao silo sem exaustão suficiente (Situação A). Nesse caso, é importante lembrar que o objetivo do estudo foi mostrar a importância do sistema de exaustão, sendo que a capacidade de aeração dos dois silos avaliados era a mesma.Figura 1. Imagens do sistema de termometria dos silos sem exaustão suficiente (A) e com exaustão suficiente e adequada (B). Fonte: CAÑIZARES, TIMM, LANG, GAIOSO, FERREIRA e OLIVEIRA, 2021.        Possivelmente a remoção de calor ocorreu devido à diferença na pressão gerada do interior e exterior do silo, onde a exaustão reduziu a energia necessária para remover o calor do interior da massa de soja. Os resultados apresentados na Figura 1 estão de acordo com o tempo de aeração e o consumo de energia apresentados na tabela e, juntos, mostram a relevância de um sistema de exaustão funcionando corretamente.    Durante os três primeiros meses de armazenamento, foram observados maiores tempos de aeração e consumo de energia, sendo esses valores maiores no silo com exaustão insuficiente (Tabela 1). Neste silo, a temperatura da soja foi padronizada e reduzida com 191 horas de aeração e não foi necessário ligar os ventiladores nos últimos 3 meses de armazenamento.    O maior tempo de aeração no silo com exaustão insuficiente promoveu redução da umidade do grão para níveis mais baixos (11,29%), quando comparado aos silos com exaustão adequada (12,17%). A redução da umidade da soja foi o principal fator que influenciou na perda de massa observada (Tabela 1). O silo com exaustão insuficiente necessitou de 191 horas de aeração, o que resultou em redução de 105,00 t de massa, pois o metabolismo da soja permaneceu acelerado por mais tempo, consumindo a matéria seca dos grãos.    Em conclusão, a implementação de exaustores adequados no armazenamento de soja emerge como uma estratégia indispensável para reduzir perdas de massa e custos operacionais. Os resultados obtidos evidenciam que a adequada remoção de calor proporcionada pelos exaustores contribui significativamente para a preservação da qualidade dos grãos, além de otimizar o consumo energético durante o processo de aeração. A comparação entre silos com sistemas de exaustão insuficiente e adequada destaca a eficácia deste último na estabilização da temperatura e umidade, refletindo diretamente na redução das perdas de massa ao longo do período de armazenamento. Portanto, a adoção de tecnologias como exaustores eólicos se revela como um investimento fundamental para garantir a competitividade e sustentabilidade da cadeia produtiva de soja, assegurando a preservação da qualidade dos grãos e a maximização dos recursos empregados no processo de armazenamento.

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Publicado - Qui, 07 Mar 2024

Parâmetros importantes para o monitoramento e controle durante a secagem de grãos
Parâmetros importantes para o monitoramento e controle durante a secagem de grãos

Por Newiton Timm e Guilherme Alamini, especialistas em pós-colheita e qualidade de grãos, professores e consultores da Academia do Grão.    A secagem é um processo importante na pós-colheita e tem como objetivo principal reduzir a umidade dos grãos para auxiliar na conservação ao longo do armazenamento. Na secagem, a água é removida primeiramente da região periférica do grão, originando um gradiente hídrico em relação a região central e úmida. Esse gradiente será responsável pela difusão da água do centro à periferia e pela redistribuição da água no interior do grão. Esse fenômeno ocorre repetidamente até que o grão atinja o percentual de umidade desejado.    Para obter um resultado eficiente e seguro, é necessário controlar alguns parâmetros que influenciam diretamente no processo de secagem. Dentre os principais parâmetros a serem controlados, destacam-se a umidade inicial dos grãos, temperatura do ar e da massa de grãos, taxa de secagem, umidade final, umidade relativa do ar de secagem, pressão de ar e fluxo de ar e de grãos no secador.    É fundamental ter conhecimento sobre cada um desses parâmetros para garantir que o processo de secagem seja bem-sucedido e para evitar perdas e potencializar resultados na pós-colheita de grãos. Neste contexto, apresentaremos a seguir mais informações sobre cada um desses parâmetros e como eles impactam o processo de secagem de grãos.    Parâmetros importante de monitoramento e controle durante a secagem visando alta qualidade de grãos:·   Umidade inicial: A umidade inicial dos grãos é um fator importante a ser considerado, pois ela influencia diretamente o tempo e o custo do processo de secagem. Quanto mais úmidos os grãos estiverem, mais tempo e energia serão necessários para secá-los.·  Temperatura do ar e da massa de grãos: A temperatura é outro parâmetro importante que deve ser controlado durante a secagem dos grãos. A temperatura ideal varia dependendo da espécie de grão e do método de secagem utilizado. É importante evitar temperaturas muito elevadas que possam danificar a qualidade dos grãos ou aumentar o risco de incêndios.·  Taxa de secagem: A taxa de secagem se refere à quantidade de umidade que é removida dos grãos por unidade de tempo. A taxa ideal de secagem varia dependendo da espécie de grão, mas geralmente deve ser controlada para evitar que os grãos sequem muito rapidamente, o que pode levar à formação de rachaduras ou fissuras.·    Umidade final: A umidade final é a umidade residual dos grãos após o processo de secagem. O teor de umidade final varia dependendo da espécie de grão e do método de armazenamento que será utilizado, mas geralmente deve ser inferior a 14% para evitar a deterioração dos grãos.·  Pressão do ar dentro do secador: A pressão do ar dentro dos níveis recomendados pelo fabricante do secador, em cada ponto indicado, é importante para garantir uma distribuição uniforme do ar secante durante o processo e por toda a coluna de grãos. Medir e controlar a pressão é importante para garantir que a ventilação dentro do secador seja adequada.·  Umidade relativa do ar de secagem: Para uma secagem eficiente, o ideal é que a umidade relativa do ar da câmara de entrada do secador seja extremamente seca e, o contrário no ar de saída, sendo um ar com elevado percentual de umidade, indicando que a água foi removida dos grãos e está sendo retirada na forma de vapor.·   Gestão da secagem: A gestão da secagem é essencial para garantir que todos os parâmetros da secagem estejam sendo controlados corretamente. É importante monitorar a umidade do grão e do ar e a temperatura em todas as câmaras do secador regularmente. O controle dos principais parâmetros durante a secagem de grãos é essencial para garantir uma secagem eficiente e segura. Cada um desses parâmetros pode afetar significativamente a qualidade final dos grãos. Portanto, é importante ajustar e monitorar cuidadosamente esses parâmetros para garantir o sucesso do processo de secagem e a obtenção de grãos de alta qualidade.    Nesse sentido, é importante destacar o gerenciamento da temperatura de secagem, sendo que o valor ideal varia conforme a espécie de grão e do método de secagem utilizado. É importante evitar temperaturas muito elevadas que possam danificar a qualidade dos grãos ou aumentar o risco de incêndios.    A Academia do Grão participou de trabalhos de pesquisa onde foram avaliados os efeitos da temperatura de secagem sobre a qualidade dos grãos depois ao longo da armazenagem. Na Figura 1 estão apresentados grãos de milho que, durante a secagem, a temperatura da massa de grãos atingiu valor de 30, 50, 70 e 90 ºC.    Posteriormente, esses grãos foram submetidos ao teste de tetrazólio, muito utilizado em análise de sementes. Nesse estudo, o teste de tetrazólio foi utilizado para se ter uma noção de como estava a viabilidade celular dos grãos após a secagem nas diferentes temperaturas. Quando os grãos estão vivos, o tetrazólio deixa o gérmen do milho vermelho e, reduzindo essa coloração, indica uma a redução da viabilidade celular, até grãos na cor natural, indicando a morte do grão.    Nesse sentido, a imagem mostrou grãos vivos quando a temperatura da massa do milho foi de até 30 ºC. A 50 ºC, foi observada uma redução da coloração avermelhada, indicando uma deterioração da massa de grãos e a 70 e a 90 ºC, os grãos apresentaram morte celular (Figura 1).Figura 1. Efeitos da temperatura de secagem sobre a viabilidade celular de grãos de milho. Fonte: Academia do Grão.    O que foi representado no exemplo para grãos de milho pode ser levado em consideração, com algumas exceções, para outras espécies de grãos. A secagem em temperaturas menores resulta em uma maior tranquilidade ao longo do armazenamento, estando o metabolismo de defesa do grão ativo para auxiliar na conservação. Já os grãos que foram submetidos a temperaturas elevadas acendem um alerta, resultando em uma redução de qualidade no armazenamento e também, posteriormente na indústria.    Outro exemplo muito comum do emprego de temperaturas elevadas durante a secagem de grãos pode ser o caso do arroz. Na Figura 2, estão apresentadas imagens de Microscopia Eletrônica de Varredura da estrutura do endosperma do arroz submetidos a uma secagem a 40 e 60 ºC, respectivamente. Nesse caso, foi evidenciada a formação de fissuras no arroz de acordo com o aumento da temperatura de secagem, o que gera uma perda de qualidade e valor agregado do produto, principalmente pela redução do rendimento de grãos inteiros na indústria. A formação de fissuras está diretamente relacionada com a temperatura do ar e da massa de grãos, que reflete também na taxa de secagem.  Figura 2. Formação de fissuras no endosperma de grãos de arroz em função da elevação da temperatura de secagem. Fonte: Lang et al. (2018).

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Publicado - Seg, 26 Feb 2024

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Impactos do controle inadequado da acidez do óleo de soja durante o armazenamento do grão
Impactos do controle inadequado da acidez do óleo de soja durante o armazenamento do grão
Por Valmor Ziegler, Dr. em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Pesquisador e Coordenador do itt Nutrifor/Unisinos     O óleo é um dos derivados da soja com maior valor agregado e de impacto comercial, sendo obtido de grãos produzidos em todas as regiões do país, o que significa uma exposição desses grãos a temperaturas ambientais com ampla variação, a depender da região e da época do ano. A atividade metabólica dos grãos armazenados é resposta das condições de temperatura, dentre outros fatores, em que estes grãos são expostos, o que pode gerar impactos significativos na qualidade dos produtos derivados, como o óleo.    Um estudo realizado no itt Nutrifor da Unisinos em 2023, fez o acompanhamento mensal de amostras de grãos de soja armazenados com umidade inicial de 12,97%, nas temperaturas de 15, 20, 25, 30 e 35°C, durante 6 meses. Observa-se que o aumento no percentual de acidez, quando o grão é armazenado em 15 e 20°C é irrisório, por outro lado, quando o armazenamento do grão é realizado a 30 e 35°C, o percentual de acidez praticamente dobra em seis meses (Tabela 1).   Tabela 1. Acidez do óleo (% em base seca) dos grãos de soja armazenados em diferentes temperaturas por 180 dias, com umidade inicial de 12,97%.Fonte: Ziegler e Ferreira (2024)        Nos últimos anos, a indústria de óleo de soja está prestando mais a atenção nos valores de acidez do óleo em grãos armazenados, pois quanto maior o percentual de acidez, maior é o teor de ácidos graxos livres presentes neste óleo, que por sua vez precisa ser removido do óleo bruto, na etapa de neutralização, conforme esquema detalhado na Figura 1. Os impactos do maior percentual de acidez, podem ser observados em duas dimensões:1 - Menor rendimento de óleo neutralizado, que segue para as etapas seguintes do refino2 - Maior custo de neutralização, uma vez que é necessário a utilização de agentes alcalinos neste processo, como o Hidróxido de SódioFigura 1. Impactos tecnológicos do maior teor de acidez do óleo em grãos de soja Todos esses fenômenos ocorrem porque as temperaturas mais elevadas aceleram o metabolismo dos grãos e dos microrganismos associados, que por sua vez liberam enzimas, dentre elas, as lipases, que fazem a hidrólise (quebra) da ligação existente entre os ácidos graxos e o glicerol, liberando os ácidos graxos livres. Por outro lado, temperaturas amenas de armazenamento (abaixo de 20°C), inibem a atividade metabólica do grão e dos microrganismos associados. Dessa forma, o controle de acidez do grão de soja durante o armazenamento representa ganhos de rendimento de óleo durante o processo de refino, além de minimizar os custos operacionais de neutralização, etapa essa necessária para atender parâmetros legais de comercialização de óleo de soja para consumo humano.   Referência Ziegler, V.; Ferreira, C. D. Qualidade de grãos de soja em função da temperatura de armazenamento. Grãos Brasil. Edição Fevereiro/Março de 2024.

Seg, 03 Jun 2024

Desafios e oportunidades na utilização de inseticidas no milho armazenado
Desafios e oportunidades na utilização de inseticidas no milho armazenado
Por Gustavo Lang, Dr. em Pós-colheita e Industrialização de Grãos.    O milho, não diferente das demais commodities no Brasil, veem superando recordes de produção e exportação. Os recentes acontecimentos globais, guerra e pandemia, afetaram a produção dos principais players da Europa, o que fez com que países como Espanha e Inglaterra aumentassem a procura pelo milho brasileiro. Em contraste às ótimas notícias, rigorosos requisitos de qualidade são exigidos para que estes negócios aconteçam, e o principal deles são os contaminantes.    Contaminantes são tidos como quaisquer substâncias adicionadas voluntariamente ou não aos grãos, e capazes de causar danos à saúde das pessoas ou animais que os consomem, como por exemplo: agroquímicos, micotoxinas, hidrocarbonetos originários da queima de biomassa e derivados de petróleo. Porém, este artigo irá tratar daqueles que atualmente veem causando grandes complicações para a exportação de milho, os inseticidas para o controle de pragas de armazenamento.     Uma parcela expressiva da produção brasileira ocorre em biomas de cerrado e amazônico onde as temperaturas e umidades do ar são elevadas. Essas condições trazem inúmeros desafios para o setor de tecnologia que muitas vezes necessita buscar soluções específicas para a realidade de uma agricultura em clima tropical. Para o controle de insetos não é diferente, pois condições estas são favoráveis para o desenvolvimento dessas pragas que causam perdas significativas.     Nesse contexto entram os inseticidas. A aplicação de inseticidas líquidos via aspersão na massa de grãos é uma ferramenta importante na diversificação das práticas de controle de pragas. No entanto, é extremamente importante que sejam respeitadas as condições legais para a sua utilização. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em conjunto com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o IBAMA são os responsáveis pela aprovação do uso e para quais grãos cada produto pode ser utilizado. A ANVISA disponibiliza as monografias com todas as informações de cada produto (clique aqui para consultar). É extremamente importante que as doses de aplicação, o volume de calda e o intervalo de segurança, que estão disponíveis na bula, sejam respeitados. Somente assim iremos garantir a sua eficácia, reduzindo os riscos do desenvolvimento de resistência pelos insetos e respeitando os limites máximos de resíduo (LMR) nos grãos.     O limite máximo de resíduo (LMR) é o valor máximo do residual de inseticida que pode estar presente nos grãos para sua utilização. Cada país define seus próprios limites para cada princípio ativo. Todo inseticida é composto por um ingrediente ativo (I.A.) responsável por matar os insetos. Cada molécula de I.A. possui um tempo para sua degradação e é expresso na bula como intervalo de segurança, ou seja, é o tempo necessário para que a molécula de I.A. se degrade para limites inferiores ao LMR e os grãos liberados para utilização.     Feito o preâmbulo dos conceitos, retornemos ao nosso desafio: exportar milho com níveis de inseticidas inferiores aos exigidos pelos países importadores. O que pode ocorrer, a exemplo da União Europeia, é que o LMR de alguns inseticidas chega a ser 60 vezes inferior quando comparado à legislação brasileira. Dessa forma, mesmo que com dosagem aplicada de forma correta e respeitado o intervalo de segurança da bula, ainda assim estaremos com residual acima do LMR exigido pela União Europeia. Na Tabela abaixo estão demonstrados os intervalos de segurança necessários para enquadramento nos limites do Brasil (conforme bula) e da União Europeia (valores estimados com base em estudos científicos) dos principais ingredientes ativos. Tabela 1. Intervalos de segurança necessários para enquadramento nos limites do Brasil e da União Europeia dos principais ingredientes ativos.    Não há como erradicar totalmente as pragas de armazenamento, somente controlá-las por meio das práticas de Manejo Integrado de Pragas (MIPgrãos). A limpeza, remoção de resíduos e profilaxia das estruturas, se adotadas continuamente, reduzem a proliferação de insetos e consequentemente a necessidades de inseticidas. Estar atento às corretas práticas na realização de expurgos, como vedação, dosagem e tempo de exposição, são cruciais para o sucesso da operação. Além disso, a utilização da terra de diatomácea que não possui toxicidade e nenhuma restrição de uso, é uma importante aliada.    É fato que os desafios para a pós-colheita são inúmeros e o cumprimento dos requisitos de qualidade e sanidade não é algo simples. Porém, é nosso dever! Adote sempre as boas práticas, procure profissionais capacitados e, quando necessário, certifique-se de que está utilizando inseticidas autorizados para aplicação em grãos de milho e que não irão impactar na sua comercialização.ReferênciasANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Brasil. MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasil. Djouaka, R.; Soglo, M.F.; Kusimo, M.O.; Adéoti, R.; Talom, A.; Zeukeng, F.; Paraïso, A.; Afari-Sefa, V.; Saethre, M.-G.; Manyong, V.; et al. The Rapid Degradation of Lambda-Cyhalothrin Makes Treated Vegetables Relatively Safe for Consumption. Int. J. Environ. Res. Public Health, 2018, 15, 1536.Papadopoulou-Mourkidou, E. & Tomazou, T. Persistence and activity of permethrin in stored wheat and its residues in wheat milling fractions. Journal of Stored Products Research, Volume 27, Issue 4, 1991, Pages 249-254.Sgarbiero, E., Trevizan, L. R. P., & Baptista, G. C. de. Pirimiphos-methyl residues in corn and popcorn grains and some of their processed products and the insecticide action on the control of Sitophilus zeamais Mots. (Coleoptera: Curculionidae). Neotropical Entomology, 32(4), 2003, 707–711.Arindam Basu Sarkar, Rahul Khupse. Bifenthrin. Editor(s): Philip Wexler, Encyclopedia of Toxicology (Fourth Edition), Academic Press, 2024, Pages 47-52.FAO & WHO. Report 2023: Pesticide residues in food – Joint FAO/WHO Meeting on Pesticide Residues. Rome, 2024.

Ter, 23 Abr 2024

Trigo no cerrado brasileiro: conheça os parâmetros de pós-colheita de diferentes genótipos
Trigo no cerrado brasileiro: conheça os parâmetros de pós-colheita de diferentes genótipos
Por Larissa Alves Rodrigues e Maurício de Oliveira, Engenheiros Agrônomos e pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas.Durante muitos anos, o cultivo do trigo foi restrito a região Sul do país. Porém, nos últimos anos, os pesquisadores e a indústria têm visto a região do Cerrado brasileiro com potencial para a produção deste grão.Os parâmetros de qualidade tecnológica, panificação e dos metabólitos do trigo são influenciados pelo genótipo e, principalmente, pelo ambiente de cultivo. Nesse sentido, considerando que um ambiente expõe a cultura a condições climáticas adversas, como estresse térmico ou hídrico, alguns atributos da qualidade do trigo, que são importantes para a indústria, são afetados por essas variações.Na Tabela 1, observa-se os valores de teor de proteína, peso hectolitro e número de queda (Falling Number) de seis genótipos de trigo, sendo eles o Destak, o 1403, o Madrepérola, o Senna, o Feroz e o Guardião, cultivados em cinco cidades diferentes, sendo elas em Arapoti/PR, em Arapongas/PR, em Passo Fundo/RS, em Uberaba/MG e em São Gotardo/MG.Tabela 1. Teor de proteína, peso hectolitro e número de queda (Falling Number) de seis genótipos de trigo cultivados em diferentes municípios do cerrado brasileiro.*As letras maiúsculas comparam entre as linhas, os diferentes locais de cultivo pelo teste de comparação de médias de Tukey, com 95% de confiabilidade. FONTE: RODRIGUES, LARISSA ALVES, 2023.        Os genótipos que foram cultivados em Arapoti/PR e Uberaba/MG apresentaram maiores valores proteicos. A alta concentração de proteína pode ser influenciada tanto por fatores abióticos quanto por fatores genéticos, influenciando os parâmetros reológicos e de qualidade da farinha, sendo ele, o principal componente que determina a qualidade da farinha de trigo. Outros fatores ambientais que também influenciam no aumento do teor de proteína dos grãos são a temperatura e a disponibilidade de água, visto que exercem grande influência sobre a taxa e a duração do período de enchimento dos grãos, afetando a sintetização de proteína nos grãos.        Os genótipos cultivados em São Gotardo/MG apresentaram maior valor de peso hectolitro, que indica a massa específico do grão e é utilizado como parâmetro de comercialização, estando relacionado ao rendimento da farinha. Além disso, os genótipos cultivados em São Gotardo/MG apresentaram maior número de queda (Falling Number). Altos valores de número de queda (Falling Number) indicam que há menor atividade de enzimas amilolíticas nas farinhas de trigo. Tanto o excesso quanto a escassez da enzima α-amilase podem influenciar no processo de panificação, alterando as propriedades tecnológicas desses produtos.        O bioma do cerrado é caracterizado por possuir temperaturas elevadas e estação de chuvas bem definidas. Essas condições acarretam em uma menor possibilidade de estresse hídrico. Nesse sentido, compreende-se que o cultivo do trigo no Cerrado veio como uma solução para a alta demanda que o Brasil possui, capaz de potencializar a produção nacional. Os resultados obtidos evidenciaram que, além de ser possível a produção de trigo no cerrado brasileiro, originam-se grãos de excelente qualidade, o que potencializa a exploração desse bioma para tal atividade.ReferênciasRodrigues, Larissa Alves. Efeitos da interação entre genótipos e ambientes dos biomas do Cerrado e da Mata Atlântica sobre as propriedades tecnológicas e de panificação de grãos de trigo. Larissa Alves Rodrigues; Maurício de Oliveira (Orientador); Moacir Cardoso Elias (Coorientador). Dissertação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Pelotas. Pelotas, 2023.

Dom, 14 Abr 2024

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